
Pesquisadores sugerem que estruturas alienígenas como os Enxames de Dyson podem desaparecer antes que possamos detectá-las. A janela de tempo para encontrá-las está se fechando rapidamente.
A busca por sinais de civilizações extraterrestres sempre foi marcada por mais perguntas do que respostas. Apesar de décadas de varreduras do espaço profundo e inúmeras iniciativas de escuta, como o ambicioso projeto Breakthrough Listen, até hoje não captamos nenhuma evidência concreta de vida inteligente fora da Terra.
Mas e se estivermos procurando tarde demais?
De acordo com um novo estudo publicado no The Astrophysical Journal, as chamadas tecnoassinaturas — evidências tecnológicas deixadas por civilizações alienígenas avançadas — podem não durar tanto quanto se imaginava. E isso inclui uma das estruturas hipotéticas mais fascinantes da astrofísica: o Enxame de Dyson.
O Que é um Enxame de Dyson?

O conceito de Enxame de Dyson foi desenvolvido a partir da ideia da Esfera de Dyson, proposta originalmente pelo físico Freeman Dyson na década de 1960. Essa megaestrutura seria composta por uma série de satélites ou painéis solares orbitando uma estrela, com o objetivo de capturar sua energia de forma extremamente eficiente.
Diferente da esfera sólida imaginada inicialmente por Dyson, o enxame é um arranjo mais viável: um aglomerado de milhares — ou milhões — de objetos tecnológicos orbitando uma estrela em padrões otimizados para absorver e utilizar sua energia.
Esses megaenxames teóricos são frequentemente mencionados como potenciais tecnoassinaturas de civilizações do Tipo II na Escala de Kardashev — ou seja, civilizações capazes de controlar a energia de toda a sua estrela hospedeira.
Uma Megaestrutura Nem Tão Eterna Assim
No entanto, o que parecia uma estrutura duradoura e quase indestrutível agora está sendo reavaliado. Brian C. Lacki, astrofísico associado ao projeto Breakthrough Listen, realizou simulações que indicam que esses enxames estão longe de ser eternos. Na verdade, eles podem se autodestruir em um período relativamente curto de tempo — algo em torno de 41 mil anos.
Segundo Lacki, a razão está na instabilidade gravitacional desses sistemas. Se a civilização responsável pelo enxame deixar de existir ou abandonar a manutenção da estrutura, os satélites e objetos tecnológicos começariam a colidir entre si. Com o tempo, essas colisões formariam uma cascata destrutiva que poderia aniquilar completamente o enxame.
“Mesmo estruturas orbitais altamente planejadas não estão livres de falhas. Pequenas variações nas órbitas, combinadas com a ausência de controle ativo, levam inevitavelmente ao colapso do sistema”, alerta Lacki em seu estudo.
Tecnoassinaturas em Rota de Desaparecimento
A ideia de que podemos ter apenas algumas dezenas de milhares de anos para encontrar uma estrutura desse tipo antes que ela desapareça muda completamente a forma como encaramos a busca por vida inteligente.
Grande parte dos esforços do SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) envolve buscar sinais de rádio, emissões de laser e análises espectrais de estrelas suspeitas. Mas e se as civilizações que um dia construíram essas estruturas já tiverem desaparecido? E se os últimos vestígios de sua existência estiverem prestes a se apagar?
Segundo o estudo, mesmo estruturas extremamente visíveis como os enxames de Dyson podem se tornar nuvens de detritos espaciais indistinguíveis do ruído cósmico.
Breakthrough Listen: Escutando o Silêncio
O projeto Breakthrough Listen, um dos mais ambiciosos já realizados na busca por vida alienígena, tem recursos impressionantes. Suas antenas são capazes de detectar sinais laser equivalentes à energia de uma lâmpada comum a 40 trilhões de quilômetros de distância. Ainda assim, nada foi encontrado até o momento.
Isso levanta uma hipótese sombria, mas plausível: as civilizações avançadas podem ter existido há milhões de anos, mas suas obras, por maiores que fossem, já se desfizeram no tempo e no espaço.
Essa possibilidade reforça a urgência da busca. Se quisermos encontrar algo, temos que procurar agora.
Instabilidade: O Fim Natural de Estruturas Abandonadas
De acordo com Lacki, os enxames de Dyson estão condenados se forem deixados à própria sorte. A perda de controle sobre a orientação e posicionamento dos satélites inevitavelmente desencadearia colisões em cascata. Inicialmente pequenas — como colisões entre fragmentos de lixo espacial na órbita terrestre — essas interações cresceriam exponencialmente.
A analogia terrestre mais próxima seria o efeito Kessler, uma teoria que prevê um colapso orbital caso o número de detritos espaciais ao redor da Terra aumente além de certo ponto. O mesmo conceito, aplicado a uma megaestrutura em escala estelar, sugere que um enxame abandonado está fadado à destruição.
Uma Corrida Contra o Tempo Cósmico
O estudo de Lacki propõe que o tempo médio de vida útil de um enxame de Dyson sem manutenção gira em torno de 41 mil anos. Em termos astronômicos, isso é um piscar de olhos. Para nós, significa que, se quisermos detectar uma dessas estruturas, precisamos estar observando o céu na hora certa — ou vamos perder tudo.
Além disso, a própria vastidão do universo joga contra nós. Mesmo com tecnologias avançadas de detecção, a quantidade de estrelas a serem analisadas é colossal. E, como se não bastasse, precisamos contar com a sorte de que as civilizações alienígenas tenham surgido e construído seus enxames dentro da nossa janela de observação.
A Última Chance de Encontrar Vida Inteligente?
A ideia de que as tecnoassinaturas alienígenas podem ter uma data de validade muda radicalmente nossa abordagem na busca por vida fora da Terra. Enxames de Dyson — antes vistos como marcos imortais de civilizações avançadas — agora são compreendidos como estruturas frágeis diante da vastidão do tempo cósmico.
Talvez nunca tenhamos encontrado um porque eles simplesmente já não existam mais.
Ou talvez estejamos à beira de detectá-los — mas o relógio está correndo.
Afinal, segundo Lacki, restam apenas cerca de 41 mil anos antes que até mesmo os rastros mais grandiosos da engenharia alienígena se desintegrem em poeira cósmica. É uma corrida contra o tempo, e o universo não espera por ninguém.