O Tempo Pode Estar Fluindo ao Contrário e Nem Percebemos: Entenda a Nova Teoria Quântica que Está Intrigando Cientistas

O tempo sempre foi percebido como uma estrada de mão única: ele avança, conduzindo nossas vidas em direção ao futuro, sem jamais olhar para trás. Essa impressão de uma “seta do tempo” é tão arraigada que raramente a questionamos. No entanto, novas pesquisas sugerem que nossa compreensão do tempo pode estar fundamentalmente equivocada — e que, no nível quântico, ele pode fluir em direções opostas ao mesmo tempo, sem que tenhamos consciência disso.
Essa revelação surge de um estudo recente realizado por uma equipe de físicos da Universidade de Surrey, na Inglaterra. Publicado na renomada revista Scientific Reports em janeiro de 2025, o trabalho propõe que, em certos sistemas quânticos, duas setas do tempo podem coexistir, apontando para direções opostas. Se essa hipótese se confirmar, ela poderá revolucionar não apenas a física, mas também nossa própria concepção da realidade.
Por que o Tempo Sempre Pareceu Unidirecional?
Antes de mergulharmos nas descobertas, é importante compreender por que vemos o tempo como uma sequência contínua e irreversível. No mundo cotidiano, tudo parece indicar um movimento progressivo: envelhecemos, experiências se acumulam, e eventos ocorrem em ordem cronológica. Essa percepção está intimamente ligada ao conceito de entropia.
A segunda lei da termodinâmica afirma que a entropia — a tendência das coisas se moverem para estados de maior desordem — aumenta com o tempo. Um copo de leite derramado é o exemplo clássico: o leite espalha-se sobre a mesa e jamais volta espontaneamente ao copo. Esse aumento irreversível de desordem é o que fundamenta nossa percepção de que o tempo “anda para frente”.
Entretanto, do ponto de vista da física clássica, as equações que governam o movimento de partículas não têm uma direção preferencial. Um pêndulo oscilando, por exemplo, se filmado e reproduzido tanto para frente quanto para trás, parecerá o mesmo. Então, de onde vem a seta do tempo?
Sistemas Quânticos e o Mistério da Direcionalidade Temporal
Para investigar essa questão, a equipe da Universidade de Surrey concentrou-se em sistemas quânticos abertos — sistemas que interagem com o ambiente ao seu redor. Ao contrário dos sistemas fechados, isolados de influências externas, os sistemas abertos são afetados por trocas de energia e matéria, o que permite observar mudanças ao longo do tempo.
Segundo Andrea Rocco, Ph.D., professora associada de física e biologia matemática e autora principal do estudo, sistemas abertos oferecem a oportunidade perfeita para estudar o surgimento da seta do tempo. Em escalas subatômicas, mudanças visíveis são raras; portanto, os físicos usam proxies como a dissipação de energia — ou seja, a entropia — para inferir a direção do tempo.
O que a equipe encontrou, porém, foi surpreendente. Em vez de apenas uma direção do tempo emergir em seus cálculos, surgiram duas setas do tempo, movendo-se simultaneamente em direções opostas. Essa descoberta sugere que, em nível quântico, a distinção entre passado e futuro pode ser muito mais sutil — ou até mesmo ilusória.
Entropia Gêmea: A Chave para o Tempo que Corre para Frente e para Trás
Uma das descobertas mais fascinantes do estudo é a noção de “entropia gêmea”. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, a entropia sempre aumenta — mas, no modelo desenvolvido pela equipe, esse aumento ocorre em ambas as direções temporais possíveis.
Imagine um copo de leite se derramando. Na nossa experiência, o leite espalha-se sobre a mesa no futuro. No modelo quântico proposto, no entanto, também seria possível observar o leite derramando no passado. Em ambos os casos, a entropia aumentaria, respeitando a segunda lei da termodinâmica.
“Você ainda veria o leite derramando”, explica Rocco, “mas o relógio giraria ao contrário”. Isso significa que, mesmo se o tempo estivesse fluindo para trás a partir de um dado momento, a progressão natural rumo à desordem continuaria, exatamente como acontece no fluxo para frente.
Essa visão de “entropias gêmeas” desafia a ideia de que o aumento da desordem é exclusivamente um fenômeno do futuro e abre portas para interpretações muito mais ricas do funcionamento do universo.
O Que Isso Significa para o Universo — e Para Nós?
Embora essa teoria não implique que possamos viajar no tempo ou construir máquinas temporais (algo que Andrea Rocco fez questão de frisar), suas implicações são profundas.
A estrutura teórica criada pela equipe pode ajudar a repensar conceitos fundamentais em áreas como termodinâmica, cosmologia e mecânica quântica. Por exemplo, existe uma especulação intrigante entre físicos: e se, no momento do Big Bang, dois universos tivessem sido gerados, cada um movendo-se em direções opostas no tempo?
Embora o novo estudo não confirme essa hipótese, ele oferece uma base matemática que torna tal cenário plausível. Em um universo onde duas setas do tempo são igualmente possíveis, talvez um universo-espelho esteja se expandindo “para o passado” enquanto o nosso avança “para o futuro”, ambos obedecendo às mesmas leis fundamentais.
Além disso, entender que o tempo pode fluir em ambas as direções, dependendo da interação entre sistemas e seu ambiente, pode mudar a forma como interpretamos fenômenos quânticos misteriosos, como o entrelaçamento e a superposição.
Um Novo Capítulo na Compreensão do Tempo
É importante ressaltar que essas ideias ainda são altamente teóricas. No entanto, elas abrem espaço para debates emocionantes sobre o que realmente é o tempo e como ele estrutura a realidade.
Se comprovadas experimentalmente no futuro, essas descobertas podem exigir uma revisão radical de tudo o que sabemos sobre o tempo — desde suas manifestações no cotidiano até seu papel na criação e evolução do cosmos.
“A física está nos dizendo que a direção oposta poderia ter sido igualmente possível”, conclui Rocco. Essa simples afirmação carrega implicações extraordinárias, sugerindo que o que chamamos de passado e futuro são, na verdade, construções emergentes de processos subjacentes muito mais simétricos do que jamais imaginamos.
Enquanto a maioria de nós continua vivendo suas vidas acreditando na flecha inabalável do tempo, no invisível mundo quântico, o próprio conceito de “antes” e “depois” pode ser apenas uma questão de perspectiva.