
Será este o início de uma nova era da longevidade — ou até da imortalidade?
A tecnologia avança em um ritmo vertiginoso, e a inteligência artificial (IA) tem sido um dos principais motores dessa transformação. Mas até onde ela pode nos levar? Para alguns líderes do setor tecnológico, a resposta é ousada: até a duplicação da expectativa de vida humana — e isso pode acontecer já na próxima década. Dario Amodei, CEO da Anthropic, uma das principais empresas de IA do mundo, afirma que poderemos ver pessoas vivendo até os 150 anos antes de 2030.
Esse número não é aleatório. Para especialistas em longevidade, alcançar os 150 anos significaria atingir o que se chama de “velocidade de escape do envelhecimento” — o ponto em que os avanços médicos aumentam a expectativa de vida mais rapidamente do que o corpo envelhece. A partir daí, a escolha de quanto tempo viver poderia, teoricamente, estar em nossas mãos.
Da Revolução Industrial à Revolução da Longevidade
Há pouco mais de dois séculos, a expectativa média de vida de um cidadão americano era de apenas 40 anos. Em 2025, esse número gira em torno de 78 a 80 anos. Grande parte dessa evolução foi impulsionada por melhorias nas condições sanitárias, vacinas, antibióticos e avanços na medicina preventiva.
Contudo, todo esse progresso ocorreu antes do surgimento da IA como ferramenta de pesquisa biomédica. Agora, com a capacidade de processar volumes gigantescos de dados, a inteligência artificial promete revolucionar a forma como entendemos o envelhecimento — e como poderemos retardá-lo ou mesmo interrompê-lo.
IA como catalisadora da longevidade
A principal força da IA está na sua capacidade de identificar padrões e propor soluções que seriam impossíveis de descobrir apenas com a análise humana. Isso tem sido aplicado com sucesso na detecção precoce de doenças, no desenvolvimento de novos medicamentos e até na engenharia genética.
Mas e se a IA não for apenas uma ferramenta auxiliar, e sim a protagonista de uma revolução biológica? Foi exatamente essa provocação que Dario Amodei lançou em outubro de 2024, ao publicar em seu blog uma análise ambiciosa: se a expectativa de vida quase dobrou no século XX, por que o mesmo não poderia ocorrer neste século — especialmente com o apoio da IA?
“Já existem medicamentos que aumentam a expectativa de vida de ratos em 25% a 50%, com efeitos colaterais mínimos”, afirmou Amodei. Ele também citou o exemplo de animais como algumas espécies de tartarugas, que vivem mais de 200 anos, indicando que os humanos não estão próximos de um limite teórico biológico absoluto.
A visão de 2030: um futuro onde escolhemos quanto tempo viver
Durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, em janeiro de 2025, Amodei reforçou sua previsão: a expectativa de vida humana poderá dobrar em até cinco anos graças aos avanços exponenciais na IA. Ele defende que, ao atingir os 150 anos, poderíamos quebrar a barreira do envelhecimento contínuo, entrando numa fase em que o ser humano teria domínio sobre o tempo de vida.
Claro, essa ideia ainda é controversa. Mesmo o próprio Amodei reconhece que a velocidade de escape pode não ser biologicamente possível hoje, mas acredita que a IA pode tornar isso viável em um futuro próximo.
Outros especialistas reforçam a visão — e a desafiam
A previsão de Amodei encontra eco em nomes como o futurista Ray Kurzweil, conhecido por suas previsões sobre a singularidade tecnológica. Segundo Kurzweil, a IA poderá acabar com o envelhecimento humano até 2032, por dois caminhos principais:
- Uso de nanorrobôs médicos inteligentes, que poderão reparar tecidos celulares danificados, eliminar células defeituosas e administrar tratamentos com precisão milimétrica.
- Upload do cérebro humano para a nuvem, permitindo uma forma de “imortalidade digital”, embora essa ideia ainda esteja cercada de incertezas científicas e éticas.
No entanto, nem todos os especialistas compartilham desse otimismo. S. Jay Olshansky, professor da Universidade de Illinois, alerta para o entusiasmo desenfreado com a longevidade. Em um estudo publicado na revista Nature Aging, ele afirma que ainda não há evidências sólidas de que a IA possa modular o processo biológico do envelhecimento.
“O processo de envelhecimento continua sendo o maior obstáculo. Não há solução mágica, e o ônus da prova está com os tecnólogos e cientistas que acreditam que é possível controlar os mecanismos celulares humanos por meio de IA”, disse Olshansky em entrevista.
Realidade ou ficção científica?
A inteligência artificial já está promovendo transformações radicais na medicina. Um estudo publicado pela Harvard Gazette em março de 2025 comparou a introdução da IA no setor médico ao impacto da internet ou do Projeto Genoma Humano. A comparação sugere que estamos no início de uma era de descobertas exponenciais, onde diagnósticos serão cada vez mais precisos e personalizados.
Entretanto, a diferença entre prolongar a vida saudável e estender a vida biológica total é grande. Um paciente pode viver mais anos sem doenças crônicas, mas isso não significa que escapou do envelhecimento. Segundo Olshansky, melhorar a qualidade de vida é possível, mas frear ou reverter o envelhecimento celular ainda é um desafio científico gigantesco.
O papel da IA no combate às doenças do envelhecimento
Apesar das controvérsias, é inegável que a IA já está ajudando a combater as principais causas de morte entre os idosos: câncer, Alzheimer, doenças cardíacas e diabetes. Algoritmos de aprendizado de máquina têm sido capazes de:
- Detectar tumores antes mesmo de aparecerem nos exames convencionais;
- Prever riscos de doenças cardiovasculares com mais precisão que os métodos tradicionais;
- Testar virtualmente milhões de combinações de moléculas em busca de novos medicamentos;
- Analisar o genoma de pacientes para criar tratamentos personalizados.
Cada um desses avanços aproxima a humanidade de uma realidade onde a longevidade não será apenas uma esperança, mas uma escolha.
Estamos prontos para viver 150 anos?
A ideia de que a inteligência artificial possa dobrar a expectativa de vida humana em menos de uma década é, sem dúvida, audaciosa. Para alguns, é o prenúncio da imortalidade tecnológica; para outros, um delírio futurista. No entanto, o que está claro é que a IA está redesenhando os limites do possível na medicina.
Se chegaremos a viver 150 anos ou não, ainda é incerto. Mas uma coisa é garantida: os próximos anos serão cruciais para definir o papel da IA na biologia humana. Estamos às portas de uma nova era — e talvez o mais surpreendente ainda esteja por vir.