Estamos Procurando Alienígenas do Jeito Errado? Cientistas Acreditam que a Resposta Está na Gravidade

Nova abordagem propõe que ondas gravitacionais podem ser a chave para detectar civilizações extraterrestres avançadas
Durante décadas, o Instituto SETI tem liderado os esforços na busca por vida inteligente fora da Terra. Utilizando uma vasta rede de radiotelescópios espalhados pelo mundo, os cientistas procuram sinais eletromagnéticos — como ondas de rádio — que possam indicar tentativas de comunicação por parte de civilizações alienígenas. No entanto, esse método tradicional apresenta uma limitação crucial: os sinais podem ser bloqueados por corpos celestes como planetas, estrelas e até poeira cósmica, o que dificulta sua detecção.
Diante desse desafio, uma nova e ousada proposta surge da mente de dois renomados astrofísicos: Avi Loeb, da Universidade de Harvard, e Shaun D. B. Fell, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Eles sugerem que a resposta pode estar não na luz ou nas ondas de rádio, mas sim nas ondas gravitacionais — distorções no espaço-tempo que atravessam o universo sem serem impedidas por matéria.
A importância das ondas gravitacionais na busca por vida extraterrestre
As ondas gravitacionais são geradas por eventos cósmicos extremamente energéticos, como a colisão de buracos negros ou estrelas de nêutrons. Essas ondulações no tecido do espaço-tempo se propagam pelo universo e podem ser captadas por detectores extremamente sensíveis, como o LIGO (Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser) e o futuro LISA (Antena Espacial de Interferometria a Laser), um projeto conjunto da NASA e da ESA.
Loeb e Fell estão colaborando com o grupo de pesquisa Applied Physics, com sede em Nova York, para transformar essa teoria em uma tecnologia prática. O objetivo é explorar como as ondas gravitacionais podem ser usadas não apenas para estudar o universo, mas também para identificar tecnoassinaturas — sinais que indicam a presença de civilizações tecnologicamente avançadas.
Segundo Gianni Martire, cofundador e CEO da Applied Physics, a chegada dos dois astrofísicos à equipe está impulsionando as pesquisas em um novo ritmo. A ideia é tão inovadora quanto ambiciosa: utilizar as ondas gravitacionais como um meio alternativo — e potencialmente mais eficaz — de procurar vida inteligente além do nosso planeta.
Por que as ondas gravitacionais são uma solução promissora?
Diferente das ondas eletromagnéticas, as ondas gravitacionais não podem ser bloqueadas. Elas atravessam todos os tipos de matéria, incluindo planetas, estrelas e até mesmo o núcleo da Terra. Isso as torna um canal ideal para a transmissão de sinais através do universo. Loeb acredita que civilizações alienígenas poderiam estar utilizando essas ondas para se comunicar ou mesmo para propulsão de naves espaciais — e nós simplesmente ainda não aprendemos a detectá-las de forma eficaz.
Em artigo publicado em abril de 2025 no Medium, Loeb afirma:
“É concebível que civilizações tecnológicas extraterrestres se comuniquem por meio de sinais gravitacionais, e nossa incapacidade de notá-los até agora se deve ao fato de o SETI tradicional ter se baseado na busca de sinais eletromagnéticos com telescópios.”
A proposta de Loeb não é apenas teórica. A interferometria a laser, técnica usada para medir essas ondas, já é uma realidade nos principais observatórios do mundo. Mas a sensibilidade dos equipamentos ainda precisa evoluir significativamente para captar possíveis tecnoassinaturas escondidas nessas distorções do espaço-tempo.
O legado controverso de Avi Loeb na astrofísica

Avi Loeb é uma das figuras mais conhecidas — e polêmicas — da astronomia moderna. Em 2018, ele ganhou as manchetes ao sugerir que o objeto interestelar conhecido como ‘Oumuamua poderia ser, na verdade, uma nave alienígena ou algum tipo de artefato tecnológico. Embora essa teoria tenha sido criticada por parte da comunidade científica, ela também abriu as portas para novas abordagens no estudo de objetos cósmicos misteriosos.
Agora, com foco nas ondas gravitacionais, Loeb se junta a uma linha de pesquisa ainda mais vanguardista. Ele vê nesses sinais uma forma revolucionária de compreender não apenas a presença alienígena, mas também os mistérios mais profundos do universo, como a matéria escura — que compõe cerca de 85% de toda a massa do cosmos, mas permanece indetectável pelas ferramentas convencionais.
Como os detectores podem evoluir e o que eles podem revelar
Atualmente, projetos como o LIGO e o Virgo já conseguem detectar colisões de buracos negros e outros eventos massivos. Mas os cientistas planejam ir além. O LISA, previsto para entrar em operação na próxima década, promete ser ainda mais sensível, possibilitando a detecção de fontes menores e mais distantes. Isso inclui objetos como:
- Asteroides ocultos, que não refletem luz suficiente para serem observados por telescópios ópticos;
- Buracos negros primordiais, formados nos primeiros momentos do universo e considerados candidatos potenciais à matéria escura;
- Sistemas de propulsão alienígena, que poderiam gerar assinaturas gravitacionais específicas, caso operem com manipulação de massa ou dobra espacial.
Loeb também menciona futuros projetos como o Telescópio Einstein e o Big Bang Observer (BBO), que devem ser até 100 vezes mais sensíveis que o LIGO atual. Isso aumentaria o volume observável do universo em até um milhão de vezes, ampliando drasticamente nossas chances de detectar qualquer tipo de atividade inteligente.
Comunicação por gravidade: ficção ou futuro da ciência?
A ideia de que civilizações alienígenas possam estar se comunicando por ondas gravitacionais parece saída diretamente de um romance de ficção científica. Mas para Loeb, essa hipótese é não apenas plausível — é necessária. Se os métodos tradicionais falharam por décadas, talvez seja hora de pensar fora da caixa.
Com detectores cada vez mais avançados, será possível construir uma espécie de “rede sensorial cósmica”, capaz de captar qualquer perturbação gravitacional incomum. Isso poderia incluir sinais intencionais enviados por inteligências alienígenas, ou simplesmente rastros tecnológicos de suas atividades no espaço.
Além disso, ao monitorar ondas gravitacionais, podemos criar sistemas de alerta precoce contra ameaças cósmicas, como asteroides ocultos que se aproximam da Terra vindos de direções “cegas”, como o lado do Sol. Isso tornaria essa tecnologia útil tanto para fins astronômicos quanto para segurança planetária.
Conclusão: o futuro da busca por vida inteligente no universo
A busca por vida inteligente fora da Terra está entrando em uma nova fase. A aposta agora é que a gravidade pode ser a chave para detectar civilizações avançadas que permanecem invisíveis aos nossos telescópios. Ondas gravitacionais representam um meio praticamente imune a interferências e obstáculos físicos, o que as torna candidatas ideais para transmitir — e captar — mensagens interestelares.
Se Loeb e seus colegas estiverem certos, os próximos anos poderão revolucionar a astrofísica e a busca por inteligência extraterrestre. Estamos à beira de descobrir que não estamos sozinhos — e a gravidade pode nos mostrar o caminho.