
A possibilidade de que civilizações alienígenas estejam trocando mensagens pelo cosmos sempre fascinou a humanidade. Agora, um grupo de cientistas afirma que esse cenário pode não apenas ser real, mas também detectável com a tecnologia atual. E mais: as conversas cósmicas podem estar ocorrendo por meio de um mecanismo surpreendentemente familiar para nós — ondas de rádio de banda estreita.
Pesquisas recentes sugerem que extraterrestres, caso existam e sejam tecnologicamente avançados, podem estar comunicando-se entre exoplanetas. Esse tipo de transmissão poderia, em situações específicas, “vazar” para o espaço profundo, tornando-se identificável por telescópios aqui na Terra.
A ideia, que combina astrofísica moderna, SETI e novas estratégias de detecção, abre um novo capítulo na busca por inteligência além do nosso planeta.
Neste artigo, você vai entender:
- como astrônomos acreditam que civilizações alienígenas podem trocar sinais entre planetas;
- por que a tecnologia usada pode ser semelhante à utilizada pela humanidade há décadas;
- como esses sinais podem ser identificados;
- e por que essa técnica pode transformar a busca por vida extraterrestre inteligente.
A nova fase do SETI: ouvir conversas entre exoplanetas
Desde a década de 1960, quando surgiram os primeiros experimentos modernos de SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), radiotelescópios do mundo inteiro vêm monitorando sinais suspeitos vindos do espaço. Apesar de algumas anomalias intrigantes — como o famoso “Wow! Signal” — nenhum deles pôde ser confirmado como prova de vida inteligente.
Tradicionalmente, a estratégia do SETI é observar grandes áreas do céu ou mirar sistemas estelares específicos, tentando captar transmissões direcionadas à Terra ou a regiões próximas. Mas e se estivermos olhando para o lugar errado?
Uma nova abordagem propõe exatamente isso: em vez de procurar sinais enviados para nós, devemos buscar transmissões que extraterrestres enviam uns aos outros.
Essa ideia ganhou força graças ao trabalho do astrônomo Nick Tusay, então doutorando na Universidade Estadual da Pensilvânia, que desenvolveu uma técnica inovadora para detectar mensagens de rádio trocadas entre planetas de outros sistemas solares.
Como funciona a técnica — e por que ocultações planetárias podem revelar comunicadores alienígenas
O método se baseia em um fenômeno astronômico já bastante estudado: a ocultação.
Quando um exoplaneta passa na frente de outro, ele pode bloquear parcialmente sua luz — mas também pode bloquear parcialmente sinais emitidos pelo planeta que está atrás. Porém, esse bloqueio não é total. Assim como a luz “vaza” pelas bordas, qualquer onda de rádio artificial também poderia vazar.
E é nesse pequeno vazamento que mora a oportunidade.
Segundo Tusay, se uma civilização alienígena estiver transmitindo um sinal de rádio de banda estreita a outro planeta do mesmo sistema, parte desse sinal poderia escapar durante uma ocultação. E então, aqui da Terra, nossos radiotelescópios teriam uma chance de captá-lo.
Esse tipo de transmissão é particularmente promissor porque sinais de banda estreita não ocorrem naturalmente. Eles são, pelo que sabemos, uma característica exclusiva de tecnologia inteligente.
“Quero encontrar — ou pelo menos tentar encontrar — sinais que uma civilização alienígena poderia emitir em seu dia a dia, sem necessariamente estar tentando se comunicar com outra espécie”, afirmou Tusay ao publicar seu estudo no The Astronomical Journal em julho de 2024.
Após concluir o doutorado, Tusay se tornou pesquisador de pós-doutorado na Universidade Estadual de Washington, mas sua técnica já está registrada como prova de conceito.
Por que sinais de banda estreita são o Santo Graal da busca por vida inteligente
Sinais de banda estreita têm características que os tornam facilmente distinguíveis dos diversos ruídos naturais emitidos pelo universo: quasares, pulsares, ventos solares, explosões de raios gama e outros fenômenos.
A humanidade mesma emite esse tipo de sinal ao se comunicar com espaçonaves através da Deep Space Network da NASA. Eles são extremamente limpos, focados e específicos — justamente o oposto do “caos” de emissões naturais do cosmos.
Segundo Seth Shostak, astrônomo sênior do Instituto SETI, um sinal assim seria a evidência mais robusta possível de tecnologia extraterrestre.
“Outras civilizações podem até ter um sistema de comunicação completamente diferente do que imaginamos, mas as leis da física são as mesmas para todas elas”, explica Shostak. “Por isso, usar ondas de rádio é algo que provavelmente fariam, porque é eficiente e funciona bem no universo.”
Ou seja: mesmo que não saibamos como aliens se comunicam, as chances são boas de que métodos simples, práticos e compatíveis com a física — como o uso de rádio — façam parte da rotina deles.
O peso da história da tecnologia humana na busca por vida alienígena
Durante os primórdios do SETI, na década de 1950 e início dos anos 1960, o mundo vivia o auge da Corrida Espacial. A humanidade já enviava sinais de rádio poderosos ao espaço e começava a perguntar: e se alguém aí fora estiver fazendo o mesmo?
Essa visão moldou profundamente os métodos usados desde então.
Para Rebecca Charbonneau, historiadora da ciência do SETI e do Instituto Americano de Física, nossa percepção sobre o que esperar de uma tecnologia alienígena ainda é influenciada pela história da nossa própria tecnologia.
“Somos condicionados pelo nosso ambiente cultural quando imaginamos o que devemos procurar”, explica Charbonneau, autora de Sinais Mistos: Comunicação Alienígena Através da Cortina de Ferro. “Como o rádio foi a principal forma de comunicação na Terra por décadas, é natural que nossa busca comece por ele.”
Hoje, entretanto, muita coisa mudou. Avançamos para cabos de fibra óptica, comunicação via satélite, internet quântica experimental e outras tecnologias. Nossas próprias emissões de rádio estão diminuindo — e isso levanta uma questão:
se civilizações alienígenas muito avançadas existirem, elas ainda usariam rádio?
Talvez sim — talvez não.
Comunicação alienígena pode usar tecnologias que nem conseguimos compreender
Uma pesquisa recente publicada no The Open Journal of Astrophysics explora a possibilidade de que civilizações extremamente avançadas possam usar meios de comunicação inimagináveis para nós.
Um exemplo são as ondas gravitacionais, ondulações no próprio tecido do espaço-tempo detectadas pela primeira vez apenas em 2015. Nossa ciência ainda engatinha nesse campo, e não temos como distinguir ondas gravitacionais naturais de possíveis emissões artificiais.
Se alienígenas se comunicassem dessa forma, seria quase impossível saber. Mas, para Tusay, isso não é motivo para desistir.
Sua proposta não pretende ser o fim da busca — mas um passo fundamental, que abre novas portas para futuras gerações de cientistas.
Mesmo que encontremos um sinal, seremos capazes de decifrá-lo?
Shostak acredita que a resposta, realisticamente, é não.
Um sinal modulado poderia conter informações, mas compreender sua linguagem, seu código ou sua lógica interna seria um desafio monumental.
Ainda assim, mesmo sem decodificação, poderíamos aprender algo.
“A modulação do sinal pode transmitir padrões simples”, diz Shostak. “Talvez informações sobre o planeta deles, ou até sobre quem eles são. Só o fato de apontarmos antenas e recebermos algo já seria revolucionário.”
A grande questão, porém, é confirmar que o sinal é realmente extraterrestre.
Para Charbonneau, isso exigirá testes rigorosos, repetição, eliminação de ruídos e extremo cuidado para evitar conclusões precipitadas — especialmente porque tendemos a procurar no universo versões de nós mesmos.
“Precisamos continuar buscando, e buscando melhor”, acrescenta Tusay. “Não encontrar nada não significa que não exista nada lá fora.”
Estamos ouvindo um planeta ligando para outro?
A ideia parece saída de ficção científica: duas civilizações comunicando-se entre seus mundos, enquanto nós, por pura coincidência geométrica, captamos o eco dessa conversa.
Mas hoje, essa possibilidade já é discutida seriamente em artigos científicos, conferências de astrobiologia e programas de observação SETI.
Com novas técnicas, telescópios mais sensíveis e métodos cada vez mais inteligentes de filtrar ruídos cósmicos, a humanidade entrou em uma nova era da busca por vida extraterrestre.
Não é mais apenas sobre esperar que alguém tente nos contatar.
É sobre ouvir o que acontece entre eles.
Seja qual for a verdade, uma coisa é certa:
A cada ano, ficamos mais próximos de descobrir se estamos sozinhos — ou apenas ouvindo a conversa errada.